Filme Literário de inspirado em Creme de Alface do Caio Fernando Abreu
São duas verões realizadas por Simone André.
Versão está no Youtube sem texto. A versão com o texto está disponível por agendamentos
Pela primeira vez o conto “Creme de Alface”, de Caio Fernando Abreu, recebe produção em audiovisual para a internet no Brasil.
O curta “CREME DE ALL FACE”, escolhido pelo edital “Cultura Presente Nas Redes”, é produzido exclusivamente por professora de Literatura durante o isolamento social pela Covid-19.
Certa vez, o jornalista, dramaturgo e escritor gaúcho Caio Fernando Abreu declarou: “queria tanto que alguém me amasse pelo que escrevi”. Falecido em 1996, certamente ele não imaginava que se tornaria um dos escritores mais queridos e populares da literatura brasileira e que sua obra perduraria por décadas!
Caio Fernando Loureiro de Abreu nasceu em 1948 na cidade de Santigo, no interior do Rio Grande do Sul, e seu amor pela escrita começou já aos seis anos de idade, quando escreveu seu primeiro livro! Aos 27 anos, em 1975, escreveu o conto “Creme de Alface”, que só veio a ser publicado em 1996. Sobre o conto, Caio chegou a registrar que “cada vez que o relia acabava por rejeitá-lo com um arrepio e repulsa pela sua absoluta violência”. Segundo ele, sua personagem “mulher-mostro”, fabricada pela violência das grandes cidades, ficou escondida por 20 anos até dele mesmo! “O que me aterroriza nesse conto é a sua atualidade”, disse Caio. E concluiu: “as cidades ficaram ainda piores, e pessoas assim ainda mais comuns”.
A atualidade e a força de “Creme de Alface” fizeram com que o conto fosse montado diversas vezes no teatro. No entanto, pela primeira vez inspira uma produção audiovisual para as redes sociais no Brasil! O feito vem, literalmente, das mãos da professora de Literatura, Simone Ribeiro André, uma apaixonada por literatura brasileira e pelo autor.
A exemplo do próprio Caio, Simone também deixou o projeto em sua gaveta por mais de 20 anos! Em 1998, ela estudou a possibilidade de montar o texto no teatro, mas engavetou a ideia. Passados inúmeros flertes com o material, a professora encontrou na reclusão forçada pela pandemia de Covid-19, em um sítio cravado na Mata Atlântica de Paraty, a motivação para retirar seu projeto do plano das ideias e o tornar real, ou melhor, ficção!
Do teatro a ideia migrou para o áudiovisual e o incentivo final aconteceu quando seu projeto “Creme de All Face” foi aprovado pelo edital “Cultura Presente Nas Redes”, da Secretaria de Estado de Cultura e Economia Criativa do Rio de Janeiro, que fomentou propostas culturais que pudessem ser executadas e transmitidas via internet, em virtude da pandemia.
“Aos poucos o projeto foi ganhando corpo. Todas as cenas gravadas foram feitas através do meu celular, por mim mesma, sozinha em casa! Foi quando percebi que as cenas caseiras acenavam com a necessidade da roteirização”, relembra Simone, que se reinventou e descobriu habilidades inimagináveis como elaborar o roteiro, gravar e ainda editar as imagens! Percalços e superações não faltaram na trajetória criativa e solitária dessa professora e seu curta. “Perder todas as gravações que estavam na nuvem, não ter respostas dos e-mails enviados, além de constantes problemas com a conexão da internet e muito mais fazem parte da aventura dessa produção”, conta ela.
Um processo que durou três meses para a realização, mas contou com anos de preparação, já que Simone reuniu um extenso material em muitos anos de aulas e leituras sobre o autor e sua a obra. No curta, a espectadora e a personagem “mulher-monstro” se misturam. A autora ainda faz a mixagem de imagens produzidas no isolamento social com cenas encontradas no YouTube, como trailers de filmes e cenas de transportes lotados.
Após esse tortuoso percurso para a realização do curta, Simone se viu com algumas perguntas na cabeça. A primeira a indagava sobre o que “Creme de Alface” ainda teria a nos dizer sobre o tempo? Afinal, foi escrito em um tempo tão distante da internet e seus resultados. “Conclui que o curta, cumpre, a sua maneira, a atualização necessária de digitalização do texto de Caio no nosso mundo moderno”, reflete a autora. O segundo questionamento de Simone foi sobre qual mensagem o conto desejaria passar em 2020? Para ela, a resposta foi a sensação de sufocamento, trazida pela leitura do conto e reiterada pelo momento de pandemia! E ainda reflexões sobre o nosso atual modo de vida.
“Essas perguntas confluíram com as limitações técnicas que vivenciei e também as facilidades de quando se tem um celular na mão e uma ideia na cabeça. Sendo assim, cheguei a dois formatos do curta: um sem som e sem texto e disponibilizado na internet pelo edital. E outro com som e com texto que pode ser acessado, respeitando os direitos autorais”, explica ela.
Segundo Simone, falar sobre a multidão que vive nas grandes cidades e sobre a qualidade de vida das pessoas a partir da ótica do isolamento social já estava em seus planos. “A cena da mulher no cinema se confunde com a leitora reagindo à obra na versão sem o texto de “Creme de All Face”. A partir da gravação das reações que a lembrança do conto trazia, fui montando o meu filme”. O resultado dessa aguerrida produção audiovisual cuja temática é profundamente cosmopolita, e que, curiosamente, nasceu em pleno isolamento social pela pandemia de Covid-19 está no ar no YouTube desde de setembro de 2020. Todos convidados a assistir, ainda que isolados.
Release por Rebeca Reiggs