O Projeto
O projeto interativo Nas Águas da Leitura - NAL, esteve em cartaz no Centro Cultural da Justiça Federal – CCJF entre abril e maio de 2019, sendo composto por múltiplas linguagens artísticas: artes visuais: exposição de fotos e livros com intervenções artísticas da coleção das obras infantis de Monteiro Lobato de 1948, da Editora Brasiliense; arte dramática: com espetáculo de contação de histórias "Tamaninho", inspirado na obra "A Chave do Tamanho"; conhecimento: debate com profissionais locais ligados à leitura e mediação literária; interação: oficinas com temas apresentados nas obras para adultos do local.
A exposição possibilitou que outras células do projeto ganhassem corpo, como a realização de um seminário, das oficinas e contações de histórias.
Naquele momento as contribuições e participações do fotógrafo Guilherme Correa, da ex-orientadora em especialização de Literatura Infantil, Sonia Monnerat, professora da Universidade Federal Fluminense - UFF, e do figurinista Gustavo de Carvalho, foram fundamentais para que as ações ocorressem. Sem recursos, contando apenas com uma arrecadação de R$500,00 pela campanha de financiamento coletivo, pudemos manter viva e realizar o início dessa história.
Em 2021, no contexto da pandemia causada pelo COVID-19 na cidade de Paraty, em conjunto com outros artistas, participei da exposição Arte na Casa: Vertentes do contemporâneo, na Casa da Cultura de Paraty, que abrigou as obras da coleção para crianças de Monteiro Lobato, e teve uma oficina com jovens estudantes da Escola Municipal Pequenina Calixto, onde um livro antigo em desuso de Jorge Amado foi ressignificado pelos alunos, que escolheram para a obra o nome de Quarto de palavras e sonhos.
Em 2022, o projeto Nas Águas da Leitura - NAL homenageia e interage com as obras de Jorge Amado, dialogando com a cidade de Paraty.
Histórico
A exposição e o projeto têm base em uma experiência e um olhar desperto para o campo da leitura. Os muitos anos de trabalho com a literatura, como professora, atriz e contadora de histórias, fizeram com que o projeto fosse interativo. A recepção das obras literárias e as diferentes compreensões e sentidos me fizeram buscar ainda mais a aproximação em um espaço simbólico onde as diferentes relações pudessem ressoar uma mesma humanidade.
A exposição nasceu a partir do trabalho na Biblioteca Parque de Niterói com o objetivo de chamar atenção dos jovens para a leitura. Mas acabou resultando em uma pequena mostra no local em 2018. O ano de criação das intervenções nos livros de Monteiro Lobato foi 2017 e, posteriormente, o fotógrafo Guilherme Correa realizou um ensaio fotográfico surpreendente, contextualizando as obras.
O histórico desse projeto vem de vivências anteriores. Em 2004 me formei em Letras - Português/Literatura pela Universidade do Estado do Rio de Janeiro – UERJ e, em 2007, cursei a pós-graduação Especialização em Literatura Infantil na Universidade Federal Fluminense – UFF, tendo como resultado a monografia intitulada Questões acerca do Teatro Infantil. Época em que o teatro como narrativa me ocupava mais, até que troquei o teatro para crianças pela contação de histórias.
Em 2015 minha experiência com a leitura trouxe a necessidade de ir em busca de outros estudos: uma especialização à distância na Universitat Autónoma de Barcelona, em Literatura, suportes e novas formas de narrativas. Posteriormente, essas experiências resultaram no trabalho como professora de Literatura Infantil na Faculdade de Pedagogia da Universidade do Estado do Rio de Janeiro - UERJ, com o foco em compartilhar e redescobrir formas de mediação de leitura para crianças, que é sempre um desafio frente às mudanças tecnológicas.
O mergulho nessas experiências se iniciou com o Grupo de Contação de Histórias Escuta Só, em atuação de 1999 até 2015. Mas a inquietação frente às necessidades de formação e leitura no cotidiano me levaram ao mestrado em Processos Formativos e Desigualdades Socais, na UERJ-FFP em 2010. Na dissertação, na pesquisa intitulada O que narram os contadores de Histórias: memórias, histórias e práticas, aprofundei os estudos sobre as práticas dos narradores de histórias atuantes no Rio de Janeiro.
A experiência e a vivencia são tão importantes quanto a formação, pois foi na escola de artes cênicas Casa das Artes de Laranjeiras – CAL, que em 1996 me formei atriz e atuei em companhias de teatro também como produtora e iluminadora. Com a criação da Cia de Teatro Nós Os Dois, de espetáculos de teatro para crianças, percorri alguns SESCs e o Festival de Blumenau com uma adaptação da literatura O Aniversário da Infanta.
Em paralelo aos trabalhos com teatro, também atuei como professora de Língua Portuguesa e Literatura. Ainda hoje atuo como Professora do Estado do Rio de Janeiro, desde 2006, e estive na graduação a distância da Fundação Centro de Ciências e Educação Superior à Distância do Estado do Rio de Janeiro – CECIERJ, entre 2005 e 2017.
Outras experiências foram os trabalhos com inclusão digital no Programa Nossa Língua Digital, da Klick Educação, que aconteceram em 2004, com atuação junto aos jovens que viviam em comunidades de risco no bairro da Tijuca, no Rio de Janeiro. Na sequência, também fui conteudista para a web de 2005 a 2011 com Dinâmicas Educacionais para o Ensino Fundamental no projeto Um Computador por Aluno – UCA.
Rever a minha trajetória para escrita deste texto, também cumpriu com o fortalecimento para a constante batalha de atuação no campo da leitura, da literatura e do conhecimento em um país como o Brasil, e no estado do Rio de Janeiro, atualmente. O projeto apresentado traz a compreensão de ser necessário acessar o que produzimos de cultura escrita, oral e visual em nossa cidade e, principalmente, através da leitura e compartilhamento de significados. Que possamos construir atividades em formas e jeitos possíveis de dinamizar acervos e manter o direito à literatura e exercício da cidadania.