Tarô Pessoal
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Cartas do Oráculo Pessoal – por Simone Ribeiro André
As cartas foram criadas logo no início da quarentena em abril de 2020 a partir do curso com o Nadan Guerra. Sem sair de casa, com as aulas online, as cartas foram feitas a partir de caixas de papelão e tesoura, o que havia na casa, mas o principal material sonhos, meditações e dinâmicas formando diferentes mitos, mitos pessoais que comunicam os conhecidos arquétipos do tarô.
Flexionar os símbolos e signos foi o grande trabalho dessa mitologia pessoal. Ter consciência da imagem criada pela mente, e moldar sentidos, essenciais nesse momento em que tantas imagens de fora passaram a fazer parte de nosso estado mais inconsciente. O exercício de criar imagens outras, os arquétipos, os saberes e viveres pessoais para serem ressignificados, imagens que a mente imediatamente deu significados criando narrativas.
As Cartas
1 O caminho se faz ao caminhar
O caminhante que se levanta de assistir ao mundo encontra a cada passo o caminho novo. E aí, você vai ficar aí parado enquanto nas telas rolam imagens?
2 Água em jarro fluido
Fluxo da consciência e da criatividade. Um jarro derrama a água como na carta da temperança, mas não retorna ao rio, se transforma e geram criações, mundo cores, formas e fluxo de energia que o movimento da água traz.
3 O lugar sem fala
Cadeira vazia a espera. Enquanto existe uma expectativa de ter um lugar para ocupar outros motivos construídos para o não-lugar. Esse assento traz desejos, vestes, sequencia, linearidade.
4 Coração em flor
Coração de tudo que nasce e brota, já teve o plantio, as sementes, agora flores e frutos. No meio da água, peixes pássaros voam em liberdade saindo do centro do coração.
5 O beijo
Perfis, semelhança e ensejo. As sinapses de um beijo. Acesso aos campos de cada um. A proximidade na distância.
6 Melancia: a perfeição
Símbolo da perfeição carrega as sementes tem uma casca dura protegendo o alimento, a água. Na carta a melancia está em uma espécie de moldura sustentada por mais verde de plantas e folhas. Abaixo em uma paisagem distante está a cidade, casas construções, rodeada de mato. A fruta contém 8 sementes visíveis.
7 Paisagens, presentes
Sementes, lugares brotos de futuros, estrelas, universos do céu em reflexos na terra. Melancia comida ou descanso na rede, o que vem depois da perfeição? Constelações que localizam a paisagem, locais que socializam as pessoas, solo fértil, terra sagrada, ou prometida?
8 Cú ou o buraco negro
Ele está em muitos palavrões e xingamentos, mas o CÚ é o lugar por onde retorna à terra o que o organismo não utilizou. Momento de reflexões filosóficas sobre o mais comum ou o mais esdrúxulo. O que não vira etéreo ou energia em nossa matéria, mas a terra há de comer.
9 Gato: o espreguiçar
O prazer da preguiça, esticar o corpo, fazer por si, dormir, descansar a vista. Se preparar para aprontar, se preparar para agir. Diferente estar passivo ao que se passa a sua frente.
10 Tempestade ou sinapses
Tempestades, descarga elétrica, sinapses na mente, paisagens de circuitos de energia que vivenciamos na mente. Som e ação. Ama-tiri, corisco fazem com que o encontro de energias dos fluidos entre transmissores, alguns de via única e outros de via dupla, carreguem e recarreguem informações.
11 Despalavras
Falas muitas falas. Descoloniza. Sem ação, não comunica. Falas estanques, tentativas de diálogo. América das línguas, desnortear mais, sulear mais. Palavras escritas não lidas, palavras ditas não ouvidas.
12 Desejo e a fenda
O desejo e a fenda do espaço-tempo. O vírus que trouxe a separação dos espaços, uniu os tempos pelas telas, pode ou não manter o desejo. Duas realidades: a possível, agora sonhada, o encontro adiado.
13 Tempo: a hera e a hora
A era do fim e a hora do início. Não dá pra se ver onde começa e onde termina o mato que cresce por traz da janela. As grades de um confinamento também indicam que a visão da realizada é parcial, ou que existe um além do que se vê, que é real. O mistério. Vai brotar vida, mesmo quando não se pode ver.
14 Carvão, Mulher e o fogo
Pagu ou a inquisição. A sombra dessa mulher de carvão. Pessoas embaixo assistem ao “circo”. Ao agir seguindo seus instintos, pode-se dar exemplo da existência pela resistência. Minha força não é bruta.
15 O desmonte: inverso de Ulisses
A mulher que tecia em tapetes histórias aqui inverte-se. O homem deve destecer o que ele criou de expectativas e até futuros. Reimaginar e quem sabe reencontrar aquela que antes esteve presa nas imagens das telas e tapeçarias. Será que ela é real?
16 A criança, o salto e o paraquedas
Uma criança salta para fora de um muro. O desespero das mãos que tentam agarra-la, mas com um paraquedas que a protege. O que você carrega para te amparar?
17 O peso: o concreto e o manto
Carta da mulher negra segurando um manto que lhe cobre cabeça. São tijolos que prendem o pé do manto que ela carrega: dos pesos que carregamos. O simbólico de carregar tijolos para algo que deveria ter sido construído. Tudo é concreto ao redor. Tem-se consciência do que se carrega? O que é preciso carregar?
18 As bolhas em mundos
Rio que soltava bolhas pelo ar, bolhas de mundos: com pessoas, vidas e formas de se viver e acreditar. Visão do que não era visto. Ou cegueira do que é real.
19 Medo
O medo que tomou conta. Apesar do medo que se vê em muitas notícias, nesse túnel do medo existe uma outra verdade que é o que floresce no peito. É possível se distanciar do medo e pela dor, espelhar o amor ao humano.
20 O passado do futuro
O pássaro que chora ao olhar o passado. Lágrima prateada escorre enquanto o futuro está na base com a árvore ao fundo. Lembrança do mito de Hórus.